quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

         De profundis

Que dor inefável me compele ao não ser?
Não somente não ser,
mas também ser, querendo não ser e odiando?
Que outras vidas explicam minha vida inexplicável?
Seremos todos destinados à reedição do mesmo limite,
da mesma ausência , da mesma falta?
Ai, dor do fracasso de querer ser tudo
e não poder ser o mais singelo sacerdote da mediocridade,
tão apaziguadora e sábia.
Afinal , o que é servir neste mundo ou noutro?
Quem nos protegerá contra o ódio, o saque,
o assalto, o vampiro ?
Quem nos salvará das boas intenções,
subjacentes aos nosso crimes e destruições?
Somos chacais de nós mesmos,
com ou sem Deus.
Em fúria devastadora,
operamos massacres e devastações,
como preço do resgate da salvação e do progresso.
E criamos leis, nações e monumentos,
abatedouros de corpos, almas, espíritos,
corações abrasados pela ilusória promessa
do amor e do caminho.
Onde está a verdade e a vida
deste ordálio opressor
que nos esmigalha em mil fragmentos ,
mil chagas,
sonhos loucos,
profecias degeneradas
pela luz ofuscante da destruição?
Escândalo,
para a consciência iludida,
que faz da revolta, zelo
 da blasfêmia, credo
 do desprezo , caridade
e do medo, poder.

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